Considerações iniciais
Este é o arcano que, entre outras coisas, fala de
perdas e términos. Algo se deteriora,
perde sua força/energia, sua razão de existir, e por fim, aquilo que sobra (sem qualquer vitalidade), deve ser retirado do nosso convívio, e enterrado. O que foi perdido abrirá espaço para que algo surja em seu lugar...
A vida não gosta de vazios, e o melhor a fazer é não lutar contra isso, permitindo que algo novo surja em nossa existência. Mas... isso leva tempo. O tempo para reconhecer a perda como definitiva, tempo para o luto, para a aceitação do fato e, finalmente, para permitir que algo surja, no lugar antes vazio.
Não podemos nos iludir: esse é um arcano que ao aparecer, num jogo, nos causa
apreensão, e uma sensação de
medo. Afinal, o que chegará ao
fim? Um trabalho? Um amor? Nossas economias? Ou alguém? Vamos perder alguém para a morte?!?
A morte... É, exatamente, ela a causa maior da perturbação que sentimos diante da carta do caixão, porque, convenhamos, a primeira coisa que nós - ou a maioria de nós ocidentais -
tememos é a morte! Tememos a
perda irreparável,
a dor terrível e a assustadora realidade de
nossa própria mortalidade. Tememos todas as coisas que são evocadas pela
figura do caixão. No entanto,
apenas algumas vezes, e diante de certas combinações de cartas,
o arcano 08 assumirá o significado de morte física. Eu diria que, na minha experiência, isso ocorre em muito menor proporção, comparando-se aos casos em que a carta indica perda (sim!), mas não relacionada à morte de alguém, e sim ao término de algo com o que estamos envolvidos: Seja um projeto, um romance, um trabalho, uma amizade, seja nossa fé religiosa, ou mesmo nossa saúde, por doença grave, mas que não terá a morte como desfecho.
De qualquer forma, é
um arcano que temos que aprender a aceitar, por traduzir, simbolicamente, algo cuja existência não pode ser ignorada. Na verdade, devemos ir além! Teremos que aprender a amá-lo como
parte integrante, e fundamental, da existência, e da manutenção do processo criativo que perpetua a vida. Demolição
x construção, nascimento
x morte, vazio
x preenchimento, são faces desse processo.
Coisa difícil, sim! Não há como negar: um caixão, é um caixão. Caixão soletra MORTE.
Como fazer, então, para estarmos em paz com essa carta? - à parte, é claro, de um trabalho interior, pessoal e intransferível, que nos habilite a encarar as perdas (por morte ou não), como fato inevitável, e finalmente ver a morte como um estado do "ser"... Mas isso, é claro, foge do nosso estudo...
O pouco que posso fazer é dar algumas
dicas, para enfrentarmos a presença da carta 07, no jogo. ;)
-
Sempre que for jogar,
acalme-se, faça seus rituais e apenas
concentre-se na pergunta, ou se for o caso de um jogo grande, tente manter a mente o mais "limpa" possível.
- Ao olhar a carta 8,
veja onde se encontra (em que casa caiu),
analise a carta de acordo com a
pergunta formulada, ou sua
posição no jogo. Estude as cartas que lhe estejam próximas.
- lembre-se que, dependendo das circunstâncias,
a carta 08,
pode trazer algo positivo: Quem poderia negar, por exemplo, que uma relação doentia chegando ao fim, trará alívio e possibilidade de cura?
- Lembre-se que o
jogo nos fala muito do momento
presente, e de uma
tendência para as ocorrências do futuro, e que a ideia de
destino, marcado e imutável, é
discutível, em várias dimensões de ordem filosófica ou religiosa.
- Lembre-se de que, num grande número de vezes, o caixão não se refere à morte física!
Se a pergunta foi sobre a situação de alguém num
emprego, por exemplo, não é caso para "viajarmos" e dizer que o chefe, ou o consulente, vai morrer e então não haverá mais emprego, com o qual nos preocupar... Ou, se no caso, a pergunta se referir a uma
relação pessoal, ou qualquer
sociedade, não é provável que a carta 08 fale da morte física de alguém, mas sim, do
término da sociedade/relação pessoal, propriamente ditas.
- Se, por exemplo, a sua posição no jogo estiver ligada a um pedido de
orientação, conselho, é impossível que Os Mestres ciganos, ou sua intuição, ou mais simplesmente "as cartas", estejam mandando o fulano se matar, ou não fazer nada, uma vez que o consulente vai "dessa prá melhor"! Provavelmente o
conselho será para que haja uma
analise sobre aquilo que, na vida da pessoa, deve ser "enterrado", por não ter mais utilidade e estar sendo um empecilho no seu desenvolvimento
- Se, no entanto, forem muitas as indicações de que possa haver morte física, devemos procurar a forma mais razoável de abordar o caso...
A provável morte é de alguém que está em mau estado de saúde, com alguma doença grave, ou idade avançada? Poderemos disser, sem ferir a ética, que o caso é muito delicado e que é hora do/a consulente esforçar-se, ao máximo, para estar presente com seu amor e solidadriedade, ajudando à pessoa amada nesse momento difícil...
Ou refere-se a alguém, ou ao próprio consulente, que aparentemente está bem? Podemos, sugerir, delicada mas firmemente, que a pessoa procure um médico para um check up, já que alguma coisa, ainda imperceptível, está ocorrendo e poderá ter graves consequências...
Enfim, acho que já dá para entender que, não precisamos mentir sobre a gravidade de uma situação, e nem vaticinar: É caso de morte! Até porque, esse é um
assunto muito sério e, se fecharmos a questão, poderemos trazer mais prejuízo do que ajuda... Se houver a possibilidade, por menor que seja, de um milagre, ou de se evitar uma situação tão grave, isso acontecerá, mais facilmente, por uma
ação positiva de amor, presença e enfrentamento tranquilo da situação - ou pela verdade sobre estado de saúde de alguém -
do que pela dor e desespero antecipados. Milagres acontecem? Esse é um assunto de foro
íntimo. O visto nas cartas pode ser evitado? Isto é também da esfera da
crença pessoal, ou da experiência de cada um de nós. Mas ainda que não acreditemos em milagres, ou mudança de "destino", ou até que neguemos a possibilidade de estarmos cometendo um erro de interpretação, uma coisa não pode ser negada:
Não temos o direito de retirar, de quem nos procura, as armas necessárias para caminharem: um pouco de fé, alguma esperança e coração tranquilo.
- Então devemos
mentir? Não! Uma situação grave deve ser interpretada como tal. Dizemos que o caso é bastante grave e sugerimos cursos de ação que poderão ajudar ao consulente e à pessoa que possa estar de partida... e, entregamos o desfecho a Deus ou Deusa, ao destino, ou acaso (dependendo da nossa crença pessoal).
- O que foi visto se refere a alguém aparentemente são, incluindo-se aqui o próprio consulente?
Maior valia terá um conselho (sério e firme) para que a pessoa em questão procure um médico, e tome certas precauções, do que enviar a pessoa à procura de um caixão e um lugar no cemitério...
Assuntos ligados à nossa mortalidade são por demais sérios, delicados e perigosos para que nos tornemos arautos da morte.
- Não vou dourar a pílula e dizer que o jogo (pelos nossos mentores, pela nossa percepção, pelo conhecimento inconsciente do nosso consulente) não seja capaz de prever a morte, porque isso ocorre, não frequentemente, mas ocorre. Também não vou usar lentes cor-de-rosa e dizer que nós nunca erramos, porque isso também acontece. Então, mais uma vez,
levando-se à serio a situação, por sua óbvia gravidade, aliar ética ao bom senso e à prudência, é o caminho que eu seguiria.
Pausa para um café!... Eu preciso, e você?